segunda-feira, 11 de junho de 2012

Vila Itororó é cidade fantasma

Vila Itororó, Bela Vista. SP

Foto: Hélio Bertolucci Jr.
Um ar de cidade fantasma paira sobre a quase surrealista Vila Itororó, localizada no coração do Bixiga, Centro de São Paulo. Habitada por quase 80 famílias até o início de novembro do ano passado, atualmente quatro famílias, num total de dez pessoas, vivem no local e convivem com a falta de luz e tentativas de invasões, muitas delas por usuários de drogas.

A debandada dos antigos moradores da Vila Itororó, situada entre as ruas Martiniano de Carvalho, Monsenhor Passalacqua, Maestro Cardim e Pedroso, começou em meados de novembro de 2011. Algumas famílias deixaram o local em janeiro e já vivem em habitações populares localizadas próximas à Vila Itororó - uma exigência para que liberassem os imóveis que ocupavam. Outras famílias passaram a receber bolsa aluguel da Prefeitura e aguardam a construção de novos conjuntos habitacionais populares, também no Centro.

Porém, um pequeno grupo formado por apenas quatro famílias está disposto a resistir e não deixar a vila. Transformaram-se no último obstáculo para a criação de um novo polo cultural na cidade, inspirado em projeto desenvolvido pelos arquitetos Décio Tozzi e Benedito Lima de Toledo. Para dar início às obras ainda este ano, a Prefeitura não descarta o uso de mandados de segurança para remover esses últimos moradores.

À noite, mesmo sob escuridão parcial (não há iluminação nas escadas e o pátio interno), a Vila Itororó ganha algum sinal de vida. Além de seus dez moradores que logo se recolhem, seguranças de uma empresa contratada pela Prefeitura e agentes das Guarda Civil Metropolitana (GCM) fazem rondas e ficam atentos para impedir qualquer tentativa de invasão do espaço por moradores de rua ou por usuários de drogas.

"Isso acontece às vezes. Quando entram, pedimos que saiam numa boa. Se quiserem engrossar, chamamos a Guarda Civil Metropolitana, que retira esse pessoal daqui. O problema é que toda vez que isso acontece, somos obrigados a entrar em todas as casas abandonadas, uma por uma, para termos certeza de que tudo está liberado", afirmou o segurança Eronilde José Elói dos Santos.

Um dos resistentes da Vila Itororó é o garçom Francisco Cleiton Marques Farias, de 24 anos, que há 13 mora no local. Ele afirma que quer deixar a vila, mas que não sairá até uma nova ordem ou decisão da Prefeitura. "Um assistente social pediu para eu ficar. É o que eu vou fazer, pois quero ter acesso ao bolsa aluguel", disse Farias, que indiretamente já foi beneficiado pela Prefeitura.

Na verdade, minha sogra ganhou um imóvel popular. Em 2011 houve o cadastramento das famílias, mas eu estava viajando. Minha sogra foi incluída e não eu. Agora, quero ver se consigo o bolsa aluguel da Prefeitura", disse.

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Cultura, as demais famílias que permanecem na vila rejeitaram o bolsa aluguel ou a oferta de moradia popular em outro local no Centro.

"Dá muito medo esse abandono todo da Vila Itororó. E não é por causa de fantasmas. Mas é escuro, cheio de animais estranhos e às vezes temos os invasores. Quando essas famílias saírem e o polo cultural for construído, vai ficar bonito", disse o segurança Elói dos Santos.

Erguida em 1922, a Vila Itororó foi construída para ser a residência do português Francisco de Castro, pedreiro que em poucos anos se transformou em um proeminente comerciante da cidade.

A casa de Castro foi feita e decorada com materiais que restaram da demolição do antigo Teatro São José - destruído em 1917 por um incêndio. São leões em estilo assírio-babilônico, vitrais, colunas e esculturas de perfil clássico.

A reunião de diferentes referências artísticas criou uma algo de difícil definição arquitetônica. Mesmo assim, de tão exótica e bela, a Vila Itororó foi palco de festas da elite intelectual da cidade, inclusive com as presenças de Mário de Andrade.

No local, havia ainda um clube que abrigou a primeira piscina particular da cidade. Com a morte de Castro, o imóvel foi doado à Instituição Beneficente Augusto e Oliveira Camargo. Com o tempo se tornou-se um dos cortiços mais belos da cidade. Hoje, está degradado.
 
Fonte da notícia: Diário do Comércio

Um comentário:

Rafael Dantas disse...

Bela vila. Essas colunas Jônicas são muito bonitas.