quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os paralelepípedos sumiram das ruas de São Paulo

Foto: Hélio Bertolucci Jr.

Quando vivenciamos dias com muitas chuvas, alagamentos, congestionamentos e rios transbordando logo nos vêm a mente que desejamos pular desta estação do ano para uma com dias mais ensolarados. Contudo, nos dias de muito calor com nossa cidade fervilhando de pessoas, carros, ônibus, motos, com muita poluição, cercada de concreto, prédios e asfalto, queremos também que este período passe bem depressa. Temos uma insatisfação constante entre as quatro estações do ano que não andam tão certeiras como antigamente devido ao tal aquecimento global.

As cidades progrediram e se transformaram, mas muitas atitudes poderiam minizar esse tão fadado aquecimento. Uma delas seria resgatar as ruas em paralelepípedos que acabaram sumindo da paisagem urbana em nome do desenvolvimento e do progresso.

Recentemente apreciei o livro de Aurélio Becherini e observei que o nosso Centro era todo pavimentado em paralelepípedos. Era? Não! O Centro continua pavimentado em paralelepípedos, porém, todas as ruas de pedra foram escondidas em camadas e mais camadas de asfalto. Não só enterraram uma parte de nossa história escondendo as pedras, como também quilômetros e mais quilômetros de trilhos que serviram para as antigas linhas de bondes. Foi uma época de ouro, de grandes progressos que hoje só podemos admirar por fotografias.

 Foto: Aurélio Becherini

Na maioria das cidades brasileiras transformaram ruas antigas pavimentadas em pedra para asfalto em nome do sinônimo de desenvolvimento e progresso. Aqui na cidade de São Paulo são poucas as ruas que ainda sobrevivem e se estão assim é porque ainda não houveram reclamações de moradores que preferem sua rua mais silenciosa quando se tem um certo volume no trânsito de carros.

É certo que muitos carros transitando em ruas de paralelepípedos fazem um certo barulho, mas os benefícios que podem trazer são inumeráveis. Hoje elas não precisariam ser inteiras em paralelepípedos, mas se mantivessem alguns trechos já cooperariam para uma cidade mais ecológica e os proprietários de automóveis estariam economizando combustível e conseqüentemente a cidade teria menos poluição.

Conhecendo um pouco sobre esta pedra, ela tem este nome devido a forma paralelograma (6 faces) é uma rocha granítica e hoje é mais utilizada na confecção de jardineiras e contenção de encostas. Considerada um ótimo investimento para pavimentar ruas com percursos de baixa velocidade, ruas que trafegam veículos pesados e ainda tem o menor custo de manutenção e garantia de milênios.

É uma forma eficiente e barata de pavimentação ecologicamente correta, pois permite a infiltração da chuva, recarregando os lençóis freáticos e diminuindo os riscos de enchentes. O asfalto, por sua vez, reúne uma quantidade danosa de produtos tóxicos para sua produção, absorve e libera todo o calor de um dia ensolarado. Pode-se observar que, em ruas de muito tráfego de veículos pesados, o asfalto até cede e forma volumes devido ao calor excessivo e peso dos veículos. Uma rua de paralelepípedos, por questões geológicas absorve menos calor e com o passar do tempo desempenha funções importantes para o meio ambiente como o aparecimento de fungos, gramíneas entre outras espécies.

Desde o ano de 2005, segundo o site da Prefeitura de São Paulo, foram anunciadas que ruas e mais ruas perderiam seu charme em paralelepípedos para se transformarem em ruas de asfalto. Os bairros da Vila Maria e Vila Guilherme foram os últimos “condecorados” com o chamado “entrar no ano com o pé direito”. Acredito que a Zona Norte ainda era o lugar de São Paulo onde mais se tinham ruas calçadas de pedra. No biênio 2005/2006 foram recapeadas 50 e em 2007 mais 40 ruas. Em 2008, o prefeito Gilberto Kassab anunciou que a Prefeitura recapearia muito mais ruas e outras de terra também entrariam na lista de que receberiam capa asfáltica pela primeira vez. No entanto neste ano mais de 157 ruas em paralelepípedos sumirão da paisagem urbana da cidade.

É lamentável que nos dias de hoje, com tantas informações e estudos, as cabeças pensantes desta cidade em nome do progresso, utilizem verbas para asfaltar determinadas ruas já que as mesmas encontram-se pavimentadas em paralelepípedos, em bom estado de conservação, são ecologicamente corretas, sem contar, que estas verbas poderiam ser aplicadas em outras melhorias da cidade.

No caminho inverso do denominado progresso, a cidade paraibana de Campina Grande, optou por calçar algumas ruas com o pavimento de pedra e a cidade mineira de Ouro Preto mantém até hoje suas ruas com calçamento de pedra por questões históricas e de turismo. Nessas cidades com certeza os carros não deixaram de circular. Em julho último o blog ‘Amigos de Pelotas’ trouxe um debate acirrado se deveriam ou não cobrir com asfalto algumas ruas centrais daquela cidade gaúcha, substituindo as pedras pelo asfalto.

O que observo é que temos que caminhar para um mundo mais ecológico. Ainda é melhor informar os cidadãos da importância de se manter a cidade com este piso milenário em bom estado de conservação que poderá ainda servir para diminuir a velocidade dos veículos, se não em todo seu trajeto, pelo menos em determinados trechos , do que se pegar caminhões de asfalto e ir impermeabilizando toda cidade.

O que nosso país precisa é de governantes ecologicamente corretos e preocupados com o impacto de suas ações ao meio ambiente. A cidade de São Paulo que cresce desordenadamente, não seguindo a risca nenhum plano de desenvolvimento, ainda poderá entrar no rol das cidades ecologicamente corretas.

Como um internauta gaúcho respondeu no blog que promoveu o debate em Pelotas: “manter as ruas de paralelepípedos é uma questão de sensibilidade”.

 (Este meu texto foi publicado em junho/]2009, no blog Chega de Demolir - Wordpress)

3 comentários:

AngelMira disse...

Gostei tanto que vou divulgar alguns trechos no nosso blog.

Hélio Bertolucci Jr. disse...

Oi Angeline. Que legal que você curtiu o blog e o texto. Só não consegui indentificar seu blog.

Volte sempre!

Marcos Amorim disse...

Pois é Hélio!
Triste. Muito triste.
Ruas internas deveriam ter, no máximo, paralelepípedos.
Ou deveriam ser de terra mesmo.
E o que dizer dos bondes?
Por nossa administração não pensa nisso?
Por que insistir nesse modelo de ônibus?
Cada vez que vejo a fila de ônibus numa avenida, me pergunto sobre isso.
Por que não podemos ter linhas de bonde interligadas a malha de trem e metrô?
O bilhete único já está aí.